domingo, 6 de maio de 2012

Conhecimento e simplicidade


Certo dia, um filósofo adentra a uma tenda de umbanda e senta-se no
banquinho de um preto velho. Sua intenção era questionar, investigar;
enfim, experimentar.
Ao se sentar, o preto velho já sabia o que ele queria, mas mesmo assim
saudou-o gentilmente e perguntou em que poderia ajudar. O filósofo
respondeu:
_ Meu preto velho, na era da biotecnologia vemos os cientistas
avançarem cada vez mais nas pesquisas referentes à manipulação do
material genético humano. Além disso, estamos na era do
multiculturalismo, de forma tal que a diversidade, inclusive no
sentido intelectual, se faz cada vez mais presente. Pergunto eu: _ o
que pode um preto velho dizer sobre assuntos de tamanha complexidade?
Preto Velho, com toda sua calma, respondeu gentilmente ao filósofo:
Misin fio, vós suncê (Sic) tem palavra bonita na boca, por causa de
que tu és homem letrado (Sic). Nego véio cá, num estudou nem
escrevinhou essas coisa. Mas daqui do meu cantinho, aonde os ventos de
Aruanda tocam em meus ouvidos, recebo as notícias que vem da Terra.
Vejo também com meus próprios olhos e presencio as lágrimas e sorrisos
que brotam como flores e espinhos no âmago de meus filhos.
Vou dizer a vós suncê uma coisa. Esse bicho chamado "biotecnologia",
eu sei muito bem como funciona. Misin fio, [bio] vem do grego "bios" =
vida. "Téchne" e "Logos" também vem do grego, fio. Logo, biotecnologia
é o conhecimento sobre as práticas (manipulação) referentes à vida.
Assim sendo, nego véio é a favor de tudo que respeita a vida e que é
usado para o bem. O bem, não só de si mesmo, mas da humanidade. Uma
faca pode ser uma ferramenta de cozinha e ajudar a preparar um
alimento. No entanto, a mesma faca pode ser uma arma a machucar
alguém. Não é a ferramenta, mas sim o que se faz com ela que torna
perigosa a humanidade.
Pasmo, o intelectual não sabia o que dizer, tamanha sua surpresa sobre
tão sábias palavras. E não só isto, o conhecimento até sobre a origem
das expressões que vem do grego, aquela humilde entidade possuía.
Por alguns segundos sentiu um misto de inveja e indignação, uma vez
que pensou ser mais conhecedor sobre as coisas da vida que o Preto
Velho. Daí então indagou:
_ Você acha que suas opiniões podem superar a luz da ciência? Este, respondeu:
_ Fio, o que nego véio fala, nego véio comprova, pois este nego
vivenciou. Caminhou na terra que vós suncê pisa hoje. Sorriu, chorou,
se emocionou, amou. Conviveu com homens de bem e também com homens do
mal. Fez suas escolhas e por isso é hoje um espírito guia. E só pude
aqui chegar porque acertei na maioria das escolhas que fiz. Naquelas
em que não acertei, tive que vivenciar novamente, até aprender. Assim
como vós, na Terra.
Quanto aos estudos (risos), esse nego véio aqui não frequentou escola
na última encarnação. Mas, das muitas encarnações que tive, eu
estudei, me formei e, em algumas delas me doutorei. A medicina
chinesa, a filosofia grega, a sabedoria hindu; tudo isso fez parte da
minha evolução. Da matemática egípcia até os estudos astronômicos de
Galileu pude aprender.

E depois de aprender tudo isso, sabe qual o maior ensinamento que
obtive misin fio?!

A ter humildade.

Por isto, doutor, vós me vês na aparência de um velho escravo brasileiro,

semeador das raízes deste lindo país chamado Brasil, terra da
diversidade, da multi culturalidade.

Que cada um formule a sua moral da história.

Porém, questione seus conhecimentos e veja se estão alinhados com os
propósitos de simplicidade.

Pois sem ela, não se faz jus a benção do saber.


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